quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

VÔO DA AZUL LEVA DOAÇÕES A NAVEGANTES


Ajuda enviada por igreja foi de 4,5 t; equipe do Correio sobrevoou áreas mais atingidas pela enchente

VENCESLAU BORLINA FILHO
Fonte:
www.cpopular.com.br

Um avião Embraer 190 da empresa aérea Azul, que ainda não estreou no céu brasileiro, chegou ontem ao Aeroporto Internacional de Navegantes, no Litoral de Santa Catarina, carregado com 4,5 toneladas de cestas básicas, kits de higiene pessoal, limpeza doméstica e produtos para crianças, além de colchões, lençóis e cobertores. A doação foi feita pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias de Campinas aos desabrigados pelas chuvas no Estado.

Cerca de outras 10 toneladas de produtos, na sua maioria alimentos não-perecíveis, também chegaram à região por meio de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) vindos de Canoas (RS).

O avião da Azul saiu do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, por volta das 12h30 e pouco antes das 13h50 chegou à região. A carga foi entregue ao Departamento Estadual de Defesa Civil de Santa Catarina, que distribuirá às vítimas da catástrofe nos municípios de Apiúna, Ascurra, Benedito Novo, Blumenau, Botuverá, Brusque, Dr. Pedrinho, Gaspar, Guabiruba, Ilhota, Indaial, Luis Alves, Pomerode, Rodeio, Rio dos Cedros e Timbó, que formam o Vale do Itajaí. A tragédia natural, provocada pelas fortes chuvas do último final de semana, provocou deslizamentos, alagamentos e transbordamentos de rios e córregos, matando ao menos 100 pessoas e deixando outras 78 mil desabrigadas ou desalojadas.

O vôo de solidariedade da Azul acabou sendo o primeiro da empresa aérea, que mantém sua sede operacional em Campinas. O vôo inaugural está marcado para acontecer na próxima terça-feira. A operações comerciais, por sua vez, serão iniciadas no dia 15 de dezembro. "Entendemos que esse é o papel principal das empresas. Nós fizemos a nossa parte antes mesmo de nos lançarmos no mercado. Dessa forma, garantimos a nossa capacidade operacional. O vôo trouxe 4,5 toneladas de produtos, passageiros e tripulação, e mostrou 100% de eficiência", disse o vice-presidente operacional da Azul, comandante Miguel Dau, que citou a ação solidária da igreja. "Toda essa operação (de doação) foi muito bem coordenada pela igreja. Nós garantimos o transporte". O presidente da Azul, David Neeleman, coordenou as ações também por ser integrante da instituição religiosa.

Igreja

O gerente de Bem-Estar da Igreja, Ageo Levi Minharo, coordenou a ação. Ele contou que o Fundo Monetário da Igreja, localizado nos Estados Unidos, se prontificou de imediato a liberar recursos para doação ao ser contatado pela direção da instituição no Brasil. "A idéia surgiu na segunda-feira, mas só foi amadurecida na quarta-feira. Ontem (anteontem), conseguimos os recursos, compramos os produtos, montamos os kits e hoje (ontem) pela manhã já estávamos em Campinas para o transporte até aqui, em Navegantes, para atender às vítimas da catástrofe que atingiu o Estado de Santa Catarina", disse. A instituição, mais conhecida como Igreja dos Mórmons, doou cerca de 4 toneladas de produtos, enquanto a Azul doou cerca de 500 quilos.

Mais alimentos

Antes do descarregamento vindo de Campinas, o aeroporto de Navegantes já havia recebido um primeiro vôo, da FAB, carregado com cestas básicas. O avião, um Amazonas (utilizado para transporte de carga da Aeronáutica), trouxe cerca de 300 cestas básicas de Canoas.

Até às 15h de ontem, Santa Catarina havia recebido 5,8 mil cestas básicas (cerca de 134 mil quilos) e 52 mil litros de água natural. Hoje, a previsão é de que o Estado receberá mais 360 mil litros de água mineral, além de 50 mil quilos de alimentos, incluindo leite em pó, biscoitos, massas lámen, cereais e achocolatados

Blumenau: 5,3 mil pessoas estão ajudando as vítimas

Número inclui 1,8 mil voluntários comovidos com os estragos

Em Blumenau, a Operação Esperança — nome dado às ações de salvamento, resgate, precaução e todas relacionadas às vítimas da tragédia natural que atingiu o município no último final de semana — já reúne cerca de 5,3 mil pessoas, sendo 3,8 mil envolvidos diretamente e outros 1,5 mil voluntários. São funcionários da Prefeitura, Defesa Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Exército Brasileiro e pessoas como o representante comercial Ralf Harbs, de 56 anos. Nascido em Blumenau, ele contou que desde que nasceu, nunca viu tanta destruição como agora.

"Essa é a pior tragédia que presencio na minha vida. Não sofri nada, nem minha família, por isso que estou aqui, para ajudar aos que precisam". Harbs contou que nem a tragédia de 1983, quando Blumenau também foi parcialmente destruída pelas chuvas, foi tão triste quanto a atual. "A de 1983 não veio com a velocidade dessa. A chuva causou alagamentos, transbordamentos de rios e córregos e os deslizamentos, gerando a destruição".

Os últimos números divulgados pela Prefeitura de Blumenau, às 19h30 de ontem, davam conta de que 24 pessoas morreram na tragédia. Cerca de 50 mil pessoas foram atingidas pelas chuvas, das quais 25 mil estão desabrigadas ou desalojadas. O número de abrigos, por sua vez, baixou de 61 para 60. Ao todo, 5.137 pessoas estão nos abrigos em escolas, centros comunitários e igrejas. O fornecimento de energia elétrica foi restabelecido para 90% da população, de cerca de 300 mil habitantes.

A expectativa da Prefeitura é de que 5% do restante sejam restabelecidos até domingo. Os outros 5% não têm prazo porque estão localizados em regiões onde a força das águas arrancou postes e levou fios embora. O abastecimento de água está garantido para 70% da população. O Rio Itajaí-Açu, o principal que corta a cidade, está 4,1 metros acima do nível normal. Na noite de domingo para segunda-feira, o nível chegou a 11,5 metros .

No Centro de Distribuição e Logística de Blumenau, levantado na Vila Germânica, onde acontece a Oktoberfest, os donativos não param de chegar. A movimentação de caminhões, caminhonetes, jeeps e voluntários que ajudam na organização das doações é intensa. (VBF/AAN)

Personalidades vão à região e fazem os programas ao vivo

William Bonner apresentou Jornal Nacional; Ana Maria Braga fez sobrevôo

Blumenau, que tem como principal diva a atriz Vera Fischer blumenauense de nascimento, é acostumada a receber personalidades nos períodos de Oktoberfest. Mas, com a tragédia ambiental, várias personalidades voltaram os olhos para o município. Uma delas foi a apresentadora de TV Ana Maria Braga. Ela saiu do Rio, de onde exibe de segunda a sexta-feira o programa Mais Você, na TV Globo, para fazer um programa ao vivo na cidade, às margens do Rio Itajaí-Açu.

Cercada de uma megaprodução, a apresentadora falou dos problemas da cidade, as doações, entrevistou vítimas e, dessa vez, não contou piadas ao lado do Louro José.

Após apresentação do programa, Ana Maria e sua equipe (cerca de 17 pessoas), seguiram em direção ao 23º Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro para um sobrevôo no Vale do Itajaí.

A equipe do Correio Popular estava no mesmo vôo. "Acho que o que mais toca na gente é ver a situação das vítimas. A natureza cobra pelo espaço dela e reage ao se ver cortada. As pessoas não esperavam isso. Uma jovem perdeu toda a família e ficou sozinha porque sua casa foi destruída. É uma situação de fragilidade. Eu não sei como faria diante de uma situação dessa", disse Ana Maria.

William Bonner também foi para Santa Catarina. Ele transmitiu o Jornal Nacional de lá. (VBF/AAN)

DIÁRIO DE BORDO

Mesmo sem chuva, Blumenau segue coberta de lama

Blumenau continua debaixo de lama. As poucas ruas que já foram limpas ainda continuam com um pouco de terra. Quando os carros passam, a poeira levanta e o cenário fica ainda um pouco mais parecido com os de filmes sobre o fim do mundo ou de guerra. A minha impressão, antes de chegar à cidade, era de que a tragédia não fosse tão grande, mas me surpreendi. O barulho dos helicópteros, das sirenes e dos tanques anfíbios pelas ruas assusta. Na noite de anteontem e começo da madrugada de ontem, uma chuva fina caiu sobre a cidade e me deixou em alerta.

Deslizamentos foram a causa da maioria dos estragos

Em Blumenau, a maior destruição ocorreu por causa dos deslizamentos de terra. A lama também foi gerada pela terra em contato com a água do Rio Itajaí-Açu. Já em Ilhota, município de cerca de 20 mil habitantes e vizinho a Blumenau, a destruição é grande. No local, deslizamentos, alagamentos de transbordamentos vitimaram milhares de pessoas. Em Itajaí, os piores problemas ficaram nas comunidades localizadas às margens do Rio Itajaí-Açu e no porto da cidade. (AAN)

Imagens de Ana Maria Braga foram ao ar na segunda-feira

As imagens gravadas pelo programa de Ana Maria Braga foram ao ar na segunda-feira, a partir das 8h15, na Globo. Durante o vôo, ela fez alguns comentários sobre a destruição. Após quase uma hora de vôo, o desembarque foi feito no Aeroporto Internacional de Navegantes. Ela gravou imagens e entrevistas com pessoas que descarregavam alimentos dos aviões da FAB. Em seguida, foi para uma sala VIP do aeroporto, onde aguardou por cerca de uma hora e meia o vôo de retorno para o Rio. (AAN)

Jipeiro leva equipe para um 'tour' por bairros da cidade

As equipes de reportagem que estão na cidade também são ajudadas. Eu e o repórter-fotográfico Estevam Scuoteguazza percorremos diversos bairros (morros) como passageiros no jipe do representante comercial Ralf Harbs. Para subir os morros, seu Ralf põe potência extra no motor. O barulho assusta. Já na descida, o medo é de faltar freio.

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